A mediunidade não é fenômeno de nossos dias, destes dias nos quais o Espiritismo encontrou seu clímax, mas, sempre existiu, desde quando existe o homem. Sim, porque foi muito por meio dela que os Espíritos diretores puderam interferir na evolução do mundo orientando-o, guiando-o, protegendo-o. Vindo conviver com os homens ou dando-lhes, pela mediunidade, as inspirações e os ensinamentos necessários, foram sempre eles, esses guias devotados e solícitos, elementos decisivos dessa evolução.
Na época em que a humanidade vivia um regime patriarcal, de tribos, a mediunidade era atribuída a poucos, que exerciam um verdadeiro reinado espiritual sobre os demais.
Passando depois para os círculos fechados dos colégios sacerdotais, criando castas privilegiadas de inspirados e, por fim, foi se difundindo entre o povo, dando nascimento aos videntes, profetas, adivinhos e pitonisas que passaram, por sua vez, a exercer inegável influência nos meios em que atuavam.
Na Índia como na Pérsia, no Egito, Grécia ou Roma, sempre foi utilizada como fonte de poder e de dominação, e tão preciosa, que originou a circunstância de somente ser concedida por meio de iniciação a poucos indivíduos de determinadas seitas e fraternidades.
Entretanto, somente após o advento do Espiritismo as práticas mediúnicas se popularizaram e foram postas ao alcance de todos, sem restrições e sem segredos.
E com a “codificação” do Espiritismo por Kardec, surgiu um ponto polêmico e discutível até hoje: “Todos são médiuns?”
Vejamos o que diz Matta e Silva:
Vejamos em ligeira análise. Diz Kardec, logo de início: “todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos espíritos é, por esse fato médium”... Notem: pelo simples fato de se receber, de alguma sorte, a influência dos espíritos ou dos “mortos”, Kardec diz que a pessoa é um médium, isto é, veículo dos espíritos no conceito fundamentado do termo... será possível que Kardec tenha concebido e escrito isso mesmo?
E continua dizendo mais que, “essa faculdade é inerente ao homem, não é privilégio exclusivo”, por isso mesmo, raras são as pessoas que dela (da faculdade) não possuam alguns rudimentos... “e por isso mesmo, pode, pois dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns”...
De dentro dessa afirmação teórica – do “pode-se dizer”, do “mais ou menos”, foi que se extraiu a concepção de “todos nós somos médiuns”, foi que se extraiu a concepção de “todos nós somos médiuns” e firmaram a regra que vem confundindo e prejudicando mais do que qualquer outra coisa mesmo, quer ao Espiritismo propriamente dito, quer às pessoas que seguem apressadamente essa regra...
Porque – incrível Porque – incrível que pareça, não cresceram a visão, não se demoraram sensatamente na interpretação correta que o mesmo Kardec deu, logo abaixo.
Veja-se como a coisa está clara (ou Kardec, aí, pôs o dedo na consciência ou essa tradução do original francês está dúbia ou ajeitada) nas próprias palavras do Codificador. Diz ele: “Todavia, usualmente, assim só se qualificam (como médiuns – veículos dos espíritos - é claro) aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que não depende de uma organização (quer dizer, de um organismo especial) mais ou menos sensitiva”...
Deduz-se então que “ser médium de fato – aquele que é, de verdade, um veículo dos espíritos – não é coisa comum; é até certo por ponto uma faculdade difícil de encontrar nas humanas criaturas...”
Dessa forma, a mediunidade existe em todos, mas nem todos possuem “Ordens e Direitos” para exercê-la. Nem todos foram preparados para exercê-la, ou seja, nem todos possuem condições psico-astrais, neurossensitivas, emocionais, e até orgânicas ou físicas, diferentes das comuns etc.
Portanto, a constatação de “ordens e Direitos” para exercer a mediunidade, exige certos cuidados especiais, sobre todos os aspectos, inclusive o da educação moral-mediúnica, para que ela possa, realmente, chegar a exercê-la regular e proveitosamente.
Um médium de fato e de direito está sujeito a toda sorte de influências ou vibrações, quer mentais ou de sobrecarga de pensamentos exteriores, quer espiríticas-astrais e cósmicas propriamente ditas, pois mesmo que ele seja ou esteja dentro da pura condição mediúnica de ser um aparelho de simples incorporação dos espíritos, nunca uma faculdade vem restrita a ela mesma, sempre se faz acompanhar de outra faculdade qualquer e geralmente o sensitivo do médium entra em atividades extraordinárias.
Entretanto, apesar do médium estar sujeito a essas injunções, próprias de sua natureza mediúnica, ele não deixa de estar também, sob a constante atenção de seu mentor ou guia espiritual, sempre disposto a ajudá-lo e a livrá-lo das influências exteriores, dos ataques do astral etc., desde que mantenha a linha justa ou a moral mediúnica indispensável às boas relações entre ele – o médium – e o seu guia ou protetor espiritual.
A faculdade mediúnica é algo que o médium traz consigo do astral, antes de encarnar – vem com esse compromisso e para isso é necessário que se tenha submetido às indispensáveis adaptações energéticas em seu corpo astral, a fim de que, quando ligado à natureza humana, essa mediunidade, encontre as condições apropriadas para se manifestar, se revelar no devido tempo.
Fonte: Mistérios e Práticas na Lei de Umbanda - W. W. Matta e Silva